No vasto e complexo panorama da história do Médio Oriente, algumas figuras destacam-se não apenas pelo seu impacto duradouro, mas também pela sua identidade e relações pessoais que desafiaram as normas da época. Neste artigo vamos explorar as vidas fascinantes de três viajantes LGBT+ que moldaram esta região: Alexandre o Grande, cujo império vasto e alianças pessoais deixaram um legado indelével; T.E. Lawrence, o enigmático Lawrence da Arábia, cuja ligação íntima com a cultura árabe e amizades profundas influenciaram revoltas e políticas; e Gertrude Bell, a "Rainha do Deserto", cuja inteligência e dedicação estabeleceram as bases de vários estados modernos. Estas figuras não só mudaram o curso da história, mas também desafiaram as convenções sociais com as suas vidas pessoais únicas. Sabe mais no Blog dos Portugueses em Viagem Estes são apenas alguns dos muitos viajantes LGBT+ que marcaram a história. A sua coragem e ousadia, juntamente com suas contribuições substanciais para a sociedade, garantem que a sua memória continue viva e continue a inspirar gerações futuras de viajantes LGBT+. 1. Alexandre, o GrandeAlexandre, o Grande, é um dos mais famosos líderes militares da história. Ele construiu um dos maiores Impérios do Mundo, da Grécia à Índia. Com as suas conquistas mudou a História da Humanidade. Nascido em 356 a.C. em Pela, na Macedónia, Alexandre herdou do pai, Filipe II, um reino forte e um exército experiente. Contudo, foi a sua educação sob a tutela do filósofo Aristóteles que moldou o seu pensamento e ambições. Alexandre não apenas conquistou vastos territórios, mas também deixou um impacto cultural profundo. As suas relações pessoais, especialmente com homens, têm sido alvo de muitos estudos e interpretações. A relação mais notável de Alexandre foi com Heféstion, um dos seus generais e amigo de infância. A amizade entre os dois era tão profunda que muitos historiadores acreditam que também envolvia uma ligação romântica e sexual. Plutarco, um dos biógrafos antigos mais respeitados, descreveu Heféstion como o amigo mais querido de Alexandre e comparou a sua relação à de Aquiles e Pátroclo, conhecidos por serem amantes na mitologia grega . Outro episódio que sugere a natureza das suas relações homossexuais é a reação de Alexandre à morte de Heféstion. Em 324 a.C., quando Heféstion morreu, Alexandre ficou inconsolável. Mandou construir um enorme monumento funerário em sua honra e organizou jogos em sua memória, tal como se fazia para os heróis da Grécia Antiga. Este luto intenso é frequentemente interpretado como um sinal de um amor profundo e uma ligação que ia além da simples amizade . Além de Heféstion, Alexandre também tinha outras relações que podem ser vistas sob a mesma luz. Bagóas, um eunuco persa, é frequentemente mencionado nas fontes históricas como sendo muito próximo de Alexandre. Segundo as crónicas de Quinto Cúrcio Rufo, um historiador romano, Bagóas tinha uma posição de destaque na vida de Alexandre, o que levanta a possibilidade de uma relação íntima . 2. Gertrude BellGertrude Bell, conhecida como a "Rainha do Deserto", foi uma arqueóloga, escritora, diplomata e espiã britânica que desempenhou um papel crucial na formação do moderno Médio Oriente no início do século XX. Embora a sua vida profissional seja amplamente documentada, a sua vida pessoal, especialmente as suas relações homossexuais, é um tema menos explorado, mas igualmente fascinante. Nascida em 1868 em Washington Hall, no condado de Durham, Inglaterra, Gertrude Bell destacou-se desde cedo pela sua inteligência e determinação. Formou-se com distinção em História Moderna na Universidade de Oxford, numa época em que poucas mulheres conseguiam alcançar tal feito. A sua paixão por viajar e explorar levou-a ao Médio Oriente, onde se tornou uma figura influente na política regional. Apesar do seu envolvimento público notável, a vida privada de Gertrude Bell permaneceu relativamente obscura. No entanto, várias cartas e diários revelam detalhes íntimos das suas relações pessoais, incluindo ligações homossexuais. Uma das suas relações mais significativas foi com Florence Amstrong, uma colega arqueóloga. As cartas trocadas entre as duas mulheres são carregadas de afeto e intimidade, sugerindo uma ligação que transcende a amizade convencional. Além de Florence, Gertrude Bell também mantinha uma relação próxima com a sua amiga de longa data, Charlotte Richmond. A correspondência entre Bell e Richmond revela uma profunda ligação emocional e possivelmente romântica. Bell descrevia Richmond como a "pessoa mais importante da sua vida" e as duas partilhavam uma cumplicidade que era rara para a época. No contexto da sociedade vitoriana e eduardiana, as relações homossexuais eram frequentemente reprimidas e estigmatizadas. As mulheres que mantinham tais relações muitas vezes escondiam-nas sob o disfarce de amizades intensas. Este parece ter sido o caso de Gertrude Bell, cujas ligações emocionais com outras mulheres eram mantidas em segredo e reveladas apenas através da correspondência pessoal. A própria natureza da arqueologia e exploração no início do século XX proporcionava um ambiente relativamente livre para as mulheres, longe das restrições sociais da Inglaterra vitoriana. No Médio Oriente, Gertrude Bell encontrava-se numa posição única onde podia exercer a sua independência e cultivar relações pessoais sem a mesma vigilância social. As cartas de Bell são uma janela para a sua vida interior, mostrando uma mulher de grande complexidade emocional e intelectual. A sua ligação com Florence Amstrong, em particular, é um exemplo da profundidade das suas emoções e da sua capacidade de formar ligações significativas com outras mulheres. Estas relações, embora não reconhecidas publicamente na época, foram fundamentais para a sua vida e trabalho. Gertrude Bell nunca se casou, o que era incomum para uma mulher da sua posição e época. Esta escolha pessoal pode refletir a sua independência e talvez a sua preferência por relações que não eram socialmente aceites. A sua vida é um testemunho da luta de muitas mulheres para encontrar um equilíbrio entre as suas aspirações pessoais e profissionais e as expectativas sociais. A influência de Gertrude Bell na política do Médio Oriente é inegável. Ela foi instrumental na criação do moderno Iraque e na definição das fronteiras da região. O seu legado é celebrado tanto pela sua contribuição profissional quanto pela sua coragem em viver uma vida autêntica, apesar das restrições sociais. 3. T.E. LawrenceThomas Edward Lawrence, mais conhecido como Lawrence da Arábia, nasceu em 1888 no País de Gales. Educado em Oxford, Lawrence desenvolveu uma paixão pela arqueologia e pelo Médio Oriente. Foi durante a Primeira Guerra Mundial que ele ganhou fama ao unir as tribos árabes contra o Império Otomano. A sua autobiografia, "Os Sete Pilares da Sabedoria", detalha as suas experiências durante a guerra e oferece insights sobre o seu caráter e motivações. As especulações sobre a sexualidade de Lawrence surgem principalmente da sua própria escrita e da correspondência com amigos próximos. Uma das suas relações mais discutidas foi com Dahoum, um jovem árabe que Lawrence conheceu enquanto trabalhava em escavações arqueológicas em Carquemis. Dahoum, cujo verdadeiro nome era Selim Ahmed, é mencionado com carinho e admiração nas obras de Lawrence. A dedicação do livro "Os Sete Pilares da Sabedoria" a Dahoum com as palavras "Para S.A." é frequentemente interpretada como uma homenagem a este jovem, sugerindo uma ligação emocional profunda . Outro ponto de interesse é a relação de Lawrence com John Bruce, um jovem escocês que conheceu durante a guerra. A correspondência entre os dois revela uma amizade intensa e possivelmente romântica. Lawrence descreve Bruce como um "amigo querido" e as cartas trocadas entre eles são cheias de afeição e intimidade. Alguns biógrafos interpretam estas cartas como evidências de uma ligação amorosa, embora não haja provas conclusivas . Lawrence também manteve uma relação próxima com vários outros homens ao longo da sua vida, incluindo o escritor E.M. Forster e o poeta Robert Graves. Estas amizades foram marcadas por uma profunda camaradagem e admiração mútua. Forster, em particular, era conhecido por ser abertamente homossexual e a sua amizade com Lawrence é frequentemente citada como um exemplo da aceitação de Lawrence em relação às questões de sexualidade. No entanto, a própria escrita de Lawrence sobre a sexualidade é ambígua e complexa. Em "Os Sete Pilares da Sabedoria", ele descreve uma experiência traumática de abuso sexual por parte de soldados turcos, o que alguns biógrafos interpretam como um evento que moldou a sua visão sobre a sexualidade e as relações pessoais. Lawrence nunca se casou e frequentemente expressava uma aversão ao casamento e às relações sexuais, o que levou alguns a especular sobre a sua possível assexualidade . A cultura da época também desempenha um papel crucial na interpretação da vida de Lawrence. No início do século XX, as relações homossexuais eram altamente estigmatizadas e frequentemente criminalizadas. Muitos homens que mantinham tais relações eram forçados a escondê-las, o que pode explicar a ambiguidade nas descrições de Lawrence sobre as suas próprias experiências. Para compreender plenamente a vida de T.E. Lawrence, é essencial considerar o contexto histórico e cultural em que ele viveu. As suas relações pessoais, especialmente com homens, oferecem uma visão mais completa e humana de um homem que é frequentemente visto apenas através do prisma das suas realizações militares. LER MAIS:
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