Entre as encostas monumentais do Maciço da Tijuca, oculta sob o manto húmido da Mata Atlântica, estende-se uma das maiores florestas urbanas replantadas do planeta: a Floresta da Tijuca. Situada no coração do Rio de Janeiro, esta reserva natural não é apenas um tesouro ecológico: é um testemunho da história do Brasil, da força regeneradora da natureza e do poder transformador das decisões humanas. Num tempo em que as alterações climáticas dominam as manchetes, a Floresta da Tijuca é um símbolo de resistência e renascimento ecológico. Sabe mais no Blog dos Portugueses em Viagem. Do ponto de vista geológico, a região da Tijuca integra o Maciço Carioca, um conjunto de formações rochosas compostas essencialmente por gnaisses e granitos, originados há mais de 600 milhões de anos. Os picos escarpados, como o Pico da Tijuca (com 1.022 metros de altitude) ou o Bico do Papagaio, foram moldados por milhões de anos de erosão, chuvas tropicais e alterações tectónicas. Esta estrutura montanhosa influencia directamente o clima do Rio de Janeiro, funcionando como uma barreira natural que retém a humidade e mantém o equilíbrio hídrico da cidade. Historicamente, a floresta viveu momentos de glória e devastação. Durante o século XVIII e início do século XIX, extensas áreas foram desmatadas para o cultivo de café e cana-de-açúcar. Com isso, os cursos de água secaram, os deslizamentos tornaram-se frequentes e o abastecimento da cidade entrou em colapso. Foi Dom Pedro II quem, em 1861, ordenou o reflorestamento da zona, numa decisão rara e visionária. Sob a liderança do major Manuel Gomes Archer, mais de 100 mil árvores nativas foram plantadas, entre elas, ipês, jacarandás, jequitibás e figueiras, dando origem à floresta que hoje conhecemos. A biodiversidade da Floresta da Tijuca é impressionante. A fauna local inclui cerca de 330 espécies de aves, entre elas o gavião-pato, o tucano-de-bico-preto e diversas espécies de beija-flores. Entre os mamíferos, destacam-se o bicho-preguiça, o macaco-prego, o gambá e o tatu-galinha. Reintroduzido em 2010, o bugio (ou macaco-barulhento) regressou como símbolo dos esforços de recuperação ecológica. Apesar dos desafios da urbanização, a floresta continua a ser um santuário vital para estas espécies, muitas das quais ameaçadas de extinção. A flora, por sua vez, é composta por centenas de espécies da Mata Atlântica, um dos biomas mais ricos e ameaçados do planeta. Nas trilhas da Tijuca é possível observar bromélias gigantes, orquídeas silvestres, samambaias, cipós, embaúbas e pau-brasil — árvore que deu nome ao país. Este ecossistema mantém uma interdependência delicada entre plantas, animais e os cursos de água que abastecem nascentes essenciais para a zona sul da cidade, como as águas que alimentam a Cascatinha Taunay e a represa da Vista Chinesa. Para quem visita, a Floresta da Tijuca oferece uma vasta rede de trilhos e miradouros, muitos acessíveis a pé e com diferentes graus de dificuldade. A trilha do Pico da Tijuca, a mais alta, oferece vistas panorâmicas de toda a cidade e até das serras de Petrópolis e Teresópolis em dias claros. A Pedra Bonita, muito procurada para voos de asa-delta, proporciona uma das vistas mais famosas do Rio. Já a Vista Chinesa e o Mirante Dona Marta são acessíveis de carro e ideais para quem prefere contemplar sem esforço físico. Entre as muitas curiosidades, destaca-se o facto de a floresta albergar ruínas de antigos engenhos e chácaras, como a antiga Fazenda Boa Vista. Há também a Gruta do Morcego, que serviu de esconderijo durante o período colonial, e a Capela Mayrink, com afrescos de Cândido Portinari. Outro ponto fascinante é que muitas das trilhas foram traçadas por escravizados que trabalhavam nas antigas plantações, e hoje são percorridas por turistas de todo o mundo. A gestão da Floresta da Tijuca está a cargo do ICMBio, dentro do Parque Nacional da Tijuca, criado oficialmente em 1961. O parque inclui ainda a Pedra da Gávea, o Corcovado e o Jardim Botânico, totalizando cerca de 39 km² de área protegida. Programas de educação ambiental, controlo de espécies invasoras, reflorestamento contínuo e actividades com voluntários mantêm viva a missão de preservar este património natural e cultural do Brasil. Apesar da sua localização no meio de uma das cidades mais densamente povoadas do mundo, a Floresta da Tijuca mantém-se vibrante, acolhedora e resiliente. Representa uma fronteira entre o urbano e o selvagem, um espaço onde a natureza ensina a escutar o tempo e a respeitar os ciclos da vida. É também um lembrete de que a destruição pode ser revertida, e de que há esperança, desde que haja vontade política e consciência ecológica. A Floresta da Tijuca é mais do que um parque ou um espaço verde. É um exemplo de regeneração ecológica, um museu vivo da história do Brasil e um laboratório de biodiversidade em plena cidade. Para o mundo, é inspiração; para o Rio, é identidade. E para todos nós, um convite à aventura. |
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