Uma jovem brasileira, Juliana Marins, está a aguardar resgate desde a passada sexta-feira, depois de cair dentro da cratera de um vulcão activo na Indonésia durante uma caminhada. A imprensa confirma que a queda aconteceu no Monte Merapi, na ilha de Java, e que a jovem está a ser procurado em condições extremamente difíceis. Juliana tem 26 anos, adora viajar e, como tantos outros, sonhava conhecer o mundo. Como ela, milhares de jovens deixam as suas casas todos os anos à procura de aventura, natureza e liberdade. Mas nem todos regressam. O caso de Juliana, e de tantos outros jovens, deve nos obrigar a todos a reflectir. Sabe mais no Blog dos Portugueses em Viagem Cada vez mais viajantes, sobretudo jovens europeus e sul-americanos, escolhem destinos em países em desenvolvimento atraídos por paisagens de sonho, culturas exóticas e experiências diferentes da sua rotina. Tudo isso é legítimo e socialmente positivo. Mas há algo que está a ser profundamente deturpado: a forma como estas experiências são vendidas nas redes sociais. Influencers, muitos deles sem qualquer formação em viagens, segurança ou contexto local, partilham momentos que parecem espontâneos, intensos e perfeitos, mas que são frequentemente planeados, encenados e editados. Não mostram a parte aborrecida, os riscos reais, as condições precárias ou os imprevistos. Não avisam que há trilhos perigosos, que há falta de socorro, que os tempos de resposta em caso de acidente podem ser fatais. E tu ficas com a sensação de que aquilo é seguro, fácil e acessível a qualquer um. Não é. A verdade é esta: viajar é maravilhoso, mas o mundo continua a ser o que é. Os países em desenvolvimento continuam a ter fragilidades estruturais sérias, seja em matéria de segurança, socorro, comunicações ou saúde pública. A formação de guias e socorristas é muitas vezes improvisada, as normas de segurança nem sempre são aplicadas, e há destinos onde, se acontecer algo grave, ninguém virá em teu socorro nas próximas horas (ou dias). Se correr bem, ficas com fotos incríveis para o Instagram. Mas se correr mal, percebes da pior forma que nem tudo o que vês online é real. E nesse momento pode ser tarde demais. Não é uma questão de atribuir culpa aos influenciadores, mas sim de promover o viajar com responsabilidade. Todos devem ter presente que as redes sociais inspiram, mas não informam. Não são substituto de investigação séria, nem de preparação para viagens. Acreditar nelas como se fossem guias fiáveis é caminhar, literalmente, para o abismo. Nos últimos anos, com o avanço acelerado da inteligência artificial e a crescente epidemia da solidão (especialmente entre os mais jovens) assistimos a um fenómeno preocupante: cada vez mais pessoas tornam-se emocionalmente reféns das redes sociais, onde procuram não apenas entretenimento, mas também validação, pertença e, perigosamente, orientação para decisões importantes. Muitos acabam por abdicar do sentido crítico, confiando cegamente em conteúdos criados por algoritmos ou influencers que, na maioria das vezes, não têm qualquer responsabilidade sobre o que recomendam. Essa dependência emocional cria uma bolha de realidade distorcida, onde o impacto visual de um vídeo vale mais do que a credibilidade de uma fonte informada. E quando a IA começa a produzir imagens perfeitas de lugares irreais, ou itinerários falsos que parecem verdadeiros, o risco multiplica-se. O resultado? Viajantes mal preparados, mal informados, e completamente expostos a perigos reais, tudo porque confundiram likes com conhecimento. Nos Portugueses em Viagem temos a responsabilidade legal e moral de proteger os nossos viajantes. Não criamos itinerários com base no que está na moda. Trabalhamos com parceiros certificados, actualizamos informações diariamente, testamos os destinos e serviços, e temos protocolos de emergência. Não nos sobra muito tempo para viralizar no TikTok nem escolhemos colaboradores com base na aparência física e do número de seguidores. E, muito importante, não adoçamos ou minimizamos o Grau de Dificuldade das nossas Expedições. É por isso que seguimos em viagem há mais de uma década e temos entre os clientes mais leais os que enfrentaram alguma adversidade no seu percurso.: eles conhecem a nossa eficácia e profissionalismo. Regressando à notícia de hoje, desconhecemos os detalhes do que se passou com a Juliana. Mas é importante perceber se foi informada do grau de dificuldade da caminhada que ia empreender, se o Guia era certificado, e se é verdade que o Grupo a deixou para trás sozinha. É importante perceber se marcou a caminhada numa Agência de Viagens registada ou simplesmente por uma página popular no Instagram. E pode ser determinante para outros jovens, que todos nós, com voz no mundo das viagens e nas redes sociais, retiremos as difíceis lições a concluir do que lhe sucedeu. João Oliveira |
MAIS ARTIGOS!Escolhe o tema:
Tudo
|