Durante a Pandemia não deixei de ser Viajante. Sem nunca adoecer, sem testar positivo, sem desobedecer à Lei Portuguesa e à dos países visitados. Sobretudo sem me render ao medo. Nos últimos meses Viajei por Itália, Suécia, Brasil e México, sozinho e com os Portugueses em Viagem. Partilho convosco esta minha Experiência única e as conclusões a que cheguei. Partilho convosco este percurso porque como Viajante acredito que no novo normal a Liberdade de viajar tem que continuar a ser um Direito. Em 2020 eu estava na Índia quando o mundo começou a fechar por causa da pandemia. A Expedição dos Portugueses em Viagem na Índia tinha terminado poucos dias antes e todo o nosso grupo já tinha regressado em segurança a Portugal. Mas eu fiquei naquele país que tanto amo e estava em Goa quando começaram a cancelar todos os voos. Como muitos outros viajantes também fiquei sem voos de regresso, mas a opção que escolhi para comprar novo voo (Emirates) revelou-se a mais sensata e consegui regressar a Portugal sem muitos contratempos. Lembro-me de estar no Aeroporto do Dubai a ver os voos serem cancelados no painel eletrónico..., um a um... do final para o início..., aproximando-se perigosamente da minha hora de partida. Foi mesmo à razia, o meu voo foi dos últimos a sair do Dubai... mas consegui ir dormir a casa. Foi o chamado "Good Karma" :) Logo nestes primeiros tempos, observando toda a histeria à minha volta percebi que começava uma nova era, que tinha de dar o meu melhor, ser corajoso e inteligente, para continuar a viajar, para continuar a ser eu próprio. Quando o teu Mundo muda, tens que aprender as novas regras, reconstruir o conhecido, tudo o que seja necessário para que os teus sonhos, a tua identidade, se continuem a cumprir. E se és um Verdadeiro Viajante a tua Identidade começa no Aeroporto, viajar não é um passeio esporádico e dispensável, é uma forma de vida essencial para seres feliz. A necessidade de viajar é profundamente humana, está no ADN dos melhores de nós, e deve ser respeitada e valorizada. Foram sempre os Viajantes quem mudou o Mundo para melhor. Não faltaram os profetas da desgraça, o pânico social, quem maliciosamente agarrasse a oportunidade para atacar valores tão recentes e tão incómodos como o são a Liberdade, os Direitos Humanos, ou o fim das Fronteiras que se vinham a diluir rapidamente nas últimas décadas. A favor da minha calma e clarividência nestes momentos negros esteve sempre a minha formação como médico veterinário. O meu estágio e primeiro emprego foi fechado num laboratório investigando um dos vírus mais contagioso e mortíferos nos animais: a Peste Suína Africana. Na Guiné Bissau Coordenei um Projecto Humanitário a menos de 200km do último surto do Ébola. Essa formação e experiência foi um suporte essencial para manter o bom senso e a sensatez, e não embarcar na loucura dos media que tão empenhados pareciam em assustar a população com factos e verdades científicas muitas vezes hiperbolizados e descontextualizadas. Longe dessa lavagem cerebral, tranquilamente confinado em casa, pude desenhar o meu caminho para continuar a viajar em 2020, e porque tudo se prolongou, em 2021. E não fui o único nem fui sozinho. No verão do ano passado os Portugueses em Viagem viajaram por Itália. No Outono regressei à Suécia e tive mais uma vez o privilégio de rever as Auroras Boreais, esse incrível espetáculo da Natureza que marca todos os que os testemunham. Quando este inverno fui para o Brasil acabei por viver uma das minhas melhores viagens de sempre. E agora escrevo-vos este artigo na fascinante Cidade do México. Desde Março do ano passado que nenhuma das Expedições dos Portugueses em Viagem, novos Destinos que nos propusemos a fazer deixou de acontecer. Tenho particular orgulho deste facto porque ele melhor que qualquer outro, traduz a nossa competência e profissionalismo, essenciais nos tempos de hoje. Continuamos em Viagem, sem doenças ou incidentes. Mesmo quando a concorrência se empolgava a publicitar destinos claramente impossíveis de realizar, nós nunca saímos de rota. Os Portugueses em Viagem tiveram as suas Auroras Boreais em 2020. Muitos outros apenas mais uma desilusão. Entre estas viagens, passeei em Portugal, como muitos outros Portugueses, e antes de fecharem os Concelhos, regressei ao interior o país, um território esquecido e por isso ainda muito genuíno. Mas, se por um lado é muita ingenuidade pensar que vão ser os passeios domésticos a salvar a Economia Nacional, é provinciano pensar que esses passeios substituem o impacto e conhecimento pessoal que resulta de uma viagem de aventura no exterior, num país distante, numa cultura sedutoramente estranha. Portugal é a nossa casa, um destino em que sempre tivemos o prazer de viajar, mas que nunca nos vai oferecer o prazer do desconforto, da desorientação, do crescimento, da realização, do desafio de um país desconhecido. Quem nunca sai do Hotel pode facilmente comparar por exemplo Cancun com Phuket. Quem viaja com verdadeira alma de viajante, aprende e saboreia as similaridades e discrepâncias entre dois destinos, entre as gentes, e é isso que faz uma viagem, é isso que nos muda, e é por isso que o valor da Viagem tem que ser recuperado das mãos de todos os burros apavorados. Neste post partilho convosco o que aprendi em viagem desde Março 2020. Espero que vos incentive e encoraje a partir, novamente, à aventura. Sim, eu acredito que é importante para a saúde dos portugueses e para o progresso cultural das suas comunidades, que os portugueses recomecem a Viajar. Porque os anos passam, o vírus e os fans do fim da Liberdade e da Democracia não se vão evaporar, a tua juventude não regressa, e os sonhos por realizar apenas fabricam pessoas amargas e esquecíveis. Desejamos-te mais do que essa existência comezinha a tirar fotografias no baloiço do miradouro num faz-de-conta que estamos em Bali, Até onde és capaz de ir? viajar em itália DURANTE A PANDEMIAOs Italianos foram o primeiro povo a entrar em confinamento. O que senti no Verão passado em que era bastante tranquilo viajar para e em Itália, sem testes nem quarentena, foi que o povo estava mais maduro que nós em relação à pandemia, com as prioridades humanas mais alinhadas. Foi a minha primeira viagem depois de Março e estava ansioso e curioso como iria ser a experiência. O que encontrei foi uma certa desobediência criativa que sempre desafiou e venceu as espectativas mais catastróficas. As ruas e os restaurantes estavam alegremente cheios, a comida continuava deliciosa, as cidades plenas de gente tranquila e animada. Destinos e atrações que antes se tornavam impossíveis na época alta foram um passeio calmo e agradável. Havia lugar nas praias da Costa Amalfitana, nos barcos, nas melhores esplanadas. A melhor forma de o descrever é que viajar em Itália voltou a ser um prazer elegante. Uma das melhores memórias que trago dessa viagem foi o Trekking dos Deuses, um dos mais belos do Mundo, e que pudemos conhecer com uma tranquilidade inesquecível. Viajar devagar permite-nos apropriarmo-nos dos lugares, deixar que a alma das paisagens nos entre no ADN, devagarinho, fixando-nos ali, mudando-nos para sempre. Viajar em Itália foi também reencontrar os profissionais do Turismo, os guias e donos de hotel, gente com quem partilhávamos a incerteza do futuro e isso gera uma enorme solidariedade. Trabalhar juntos para levantar novamente os projetos mútuos. Foi um Bom Verão, mas vinha aí o Outono e a Islândia continuava fechada. viajar na suécia DURANTE A PANDEMIAFoi a viagem mais pedagógica em termos de Pandemia. Pude testemunhar na primeira pessoa a distância entre as notícias veiculadas nos media... e a realidade sueca. O mesmo tipo de desmistificação que os nossos viajantes sentem quando participam por exemplo na Expedição ao Irão. Encontrei um povo cuidadoso, informado, consciente, mas livre, leve e portanto feliz. Na Expedição à Suécia conseguimos mais uma vez ver as Auroras Boreais. Caminhámos no extraordinário Parque Nacional Abisko e saboreámos os encantos de Estocolmo onde todos os Museus e atrações estavam abertos e a funcionar normalmente. Não é difícil perceber que subir ao palco com os Hologramas dos Abba é melhor que contar as joias de peito da Graça Freitas, e nesta altura Portugal já levava mais de 6 meses de confinamento (em várias intensidades). Ao embarcar de regresso a Portugal já estava a planear a próxima Aventura: o Brasil. viajar no brasil DURANTE A PANDEMIACheguei logo após o Natal ao meu querido Rio de Janeiro, a cidade mais bela do Mundo. Todos os que já viajaram no Rio me entendem plenamente. A beleza luxuriante da selva, a intensidade do mar, os morros que se erguem gigantescos à nossa volta. A beleza, leveza, sensualidade descomplexada dos cariocas que abraçam qualquer desconhecido é constante. Ensinam o hedonismo aos europeus que chegam sempre com uma espécie de vergonha de si próprios, numa bem comportada timidez tão portuguesa, e que qualquer mulata liberada, viado bombado ou rapaz largado, nos demonstra pelo exemplo, ser estúpida e desnecessária. Poucas semanas depois de começar a partilhar esta aventura iniciavam os ataques nas redes sociais. Nunca percebi se foi só inveja pura, se uma manifestação de cobardia de pessoas aprisionadas aos seus medos, ou se simplesmente o confinamento os descompensou. De repente a minha liberdade, a minha felicidade incomodava. Havia quem não me quisesse autorizar a estar bem, a ser feliz. Eu devia estar a cumprir os seus medos, a morrer numa cama de hospital por estar em viagem. Nunca bani tanto perfil das redes sociais (a higiene começa online), Aprendi no meu caminho que responder é respeitar e validar a opinião do outro. Por alguns dias do portátil só vinha má energia. Mas eu fazia delete e depois baixava a tela, voltava a olhar o mar, a sentir um sorriso e começava o samba outra vez. Porque a verdade é que sempre haverá quem escreve sobre as suas viagens... e os que por cobardia só conseguem escrever sobre as viagens dos outros. Hoje agradeço do coração todos esses ataques viperinos. Toda essa pequenez sublimou uma das minhas melhores viagens de sempre. Era o tal Good Karma a relembrar-me o Privilégio da Liberdade, não apenas a do Passaporte, mas a do Pensamento. Não tinha planeado ficar tantos meses, mas o Brasil é imenso e tem tanto a oferecer, tanto a descobrir, que livre, me pude ir desdobrando por terras e pessoas, entregue ao prazer mais puro de viajar. Sem a responsabilidade de liderar um grupo ou sequer a mim mesmo. Foi tão bom que vou ter que repetir. viajar no méxico DURANTE A PANDEMIANinguém me ofereceu a Liberdade. Fui eu que a escolhi. Ela faz parte do meu salário e uso-a com o mesmo cuidado e satisfação com que algumas pessoas gastam legitimamente o seu dinheiro. Quem me conhece sabe o quanto trabalhei para construir os Portugueses em Viagem, do zero, uma simples ideia, que já chegou ao coração de tanta gente, que ofereceu tantas experiências positivas a tanta gente, que pelo trabalho ajuda pessoas que admiro em todos os cantos do Mundo. Deixei o Brasil mas decidi, ousadamente, continuar em viagem. Estou no México agora. Ainda é cedo para vos dar um feed-back, para além que as medidas contra a pandemia são sensatas e simples e portanto continua a ser possível viver de uma forma humana, livre e aberta. Como no Brasil, não é a minha primeira vez por aqui e isso acaba por me libertar daquela pressão e curiosidade que todos sentimos pelos lugares mais falados, os "obrigatórios", que acabam por ditar, justamente e com mérito, a agenda da primeira viagem. Há cada vez mais pessoas a viajar, inclusive Portugueses, e o México provou-me isso. Viajam e não partilham para não gramarem a condenação social nas redes do costume. Mas há cada vez mais gente a viajar, a dizer basta à prisão, e um bom indicador é que se alguns destinos baixam os preços desesperadamente para capturar viajantes, no México viajar não está de todo mais barato. É possível viajar no país. As praias, museus, restaurantes e discotecas estão abertos e os tours e visitas a parques temáticos a decorrer. Todos os transportes públicos funcionam. As regras são claras, transparentes e de fácil execução. Na data em que escrevo este post não precisas de teste para entrar no México (mas precisas para poder regressara Portugal). cuidados a terO Covid, como todas as doenças, tem grupos de risco muito específicos. Ninguém melhor que o teu médico te pode informar se és ou não parte desses grupos de risco, e se sim, de que forma é que estares vacinado/a te permite ou não viajar. Desde Março 2020 que os Portugueses em Viagem desaconselham publicamente no seu site todas as deslocações internacionais de pessoas que integrem estes grupos de risco. Dito isto, a grande maioria da população não é grupo de risco de desenvolver sintomas graves em caso de infeção com Covid-19. É o meu caso. E embora exista biologicamente sempre a possibilidade de também eu adoecer gravemente com a doença, essa probabilidade é menor que ser atropelado no Cairo, que visitei mais de uma vez, ou apanhar Malária na Guiné Bissau, onde vivi. Viajar sempre foi, para os verdadeiros Viajantes, uma Aventura. Para mim o Mundo sempre foi maior que o medo. O medo é um mau conselheiro, para as pessoas e para as sociedades, e o primeiro passo para muitos dos piores crimes. Da Alemanha Nazi ao Rwanda, foi pelo medo que se manipularam as populações ao isolamento e ao Genocídio. A Liberdade sempre teve inimigos. A Democracia sempre teve inimigos. Mas ambas, juntas, são o único caminho para o Homem pleno. Não é por acaso que a primeira vítima de todos os regimes totalitários sempre foi o Passaporte. E sempre, alegadamente, para o bem das vítimas, infantilizadas e expropriadas do poder de decidir sobre que riscos correr. Informa-te com o teu médico, para além das parangonas dos jornais e comentadores sensacionalistas de telejornal, e depois, com todos os factos bem claros, decide em consciência e racionalmente como vais gerir mais este risco em viagem. os inconvenientes NO NOVO NORMALO principal inconveniente de viajar na atualidade são a constante alteração de regras de entrada em cada país, os testes, quarentenas, formulários, apps e afins obrigações. Se dominares isso, está superado. Pessoalmente, e nos Portugueses em Viagem, resolvemos esse desafio acompanhando os sites oficiais de cada destino e mantendo a comunicação com os nossos parceiros locais com quem trabalhamos há tantos anos. Continuamos fortes e unidos. Em equipa tudo se vence. Outras contrariedades são: limitações de horários e de visitantes nas atrações; restrições do número e disponibilidade de transportes públicos; o aumento da criminalidade e insegurança (devido à evidente explosão de pobreza no hemisfério sul como consequência dos confinamentos). Dica: é importante não marcares os voos com demasiada antecedência. As constantes mudanças das regras fazem com que as Companhias Aéreas tenham que alterar os voos. Marcar com muita antecedência significa quase sempre cancelamentos e remarcações (e bastante tempo ao telefone a resolver este tipo de problema). Agora a regra de Ouro para viajar é apenas uma: manter ao máximo a flexibilidade. as vantagens DE VIAJAR AGORAJá há vários seguros de viagem que cobrem cancelamentos ou alterações de viagem devido à Pandemia ou a um teste positivo. Tens obrigatoriamente que escolher um destes seguros: mesmo as pessoas absolutamente saudáveis podem testar positivo e ser impossibilitadas de prosseguir viagem. Os preços dos voos estão mais estáveis. Cada vez mais companhias aéreas permitem cancelar os voos ou alterar as datas sem motivo e sem a perca do valor pago. Há sempre lugar para ti nos aviões, nos hotéis, nos monumentos, nos transportes. Há mais gente a viajar do que se perceciona, mas o Turismo de massas e as suas consequências tóxicas desapareceram. Menos turistas também significa que és mais bem-vindo/a e as probabilidades de viveres uma experiência autêntica e genuína é maior. Não és só "mais um", és o "único" a querer conhecer. Nos países em que a vida continua a acontecer, voltas a sentir a tua liberdade, reganhas a tua humanidade e, se vindo/a de meses fechado/a em casa, isso sabe melhor do que possas sequer imaginar. Vais também ganhar distanciamento à psique nacional, aumentando o discernimento e a imunidade às ideias feitas que apenas geram medo e desespero nos menos atentos. Vais recuperar aquele teu "eu" que sabia, antes de Março de 2020, que a decisão de um ministro não é obrigatória e inquestionavelmente a mais correta, a melhor, a única possível. Esse retomar do sentido crítico só pode ser bom para ti e para a tua comunidade. os viajantes QUE CONTINUARAM EM VIAGEMTalvez o maior prazer destas viagens foram os viajantes que encontrei e as novas amizades que tanto vieram enriquecer a minha vida. Desapareceram do mapa os blogueiros egocêntricos, as instagramers ocas a repetir-se na mesma foto, os grupos gigantescos que atravessam as atrações a fazer barulho e a desrespeitar, muitas vezes de forma angustiante, a cultura ou santidade de um local. Toda essa gente evaporou. A principal herança que trago destas viagens são mesmo os amigos extraordinários que fiz. Livres na alma, no pensamento e no movimento, todas as histórias que vivemos juntos enquanto o resto do mundo delirava num apogeu dos valores opostos. Desde 2020 que só verdadeiros viajantes se deram ao trabalho de sair de casa, enfrentar ou contornar as novas burocracias, só as almas amplas recusaram viver sem abraços. De repente os hostels ficaram quase vazios de gente mas cheios de amor e amizade. Sei que a palavra amor sempre arranca sorrisos, mas é a palavra certa quando sete ou oito viajantes se reúnem com as suas histórias e desafios, umas cervejas e uma guitarra, numa praia ou num jardim, e vivem e partilham aqueles valores que estão tanto em falta em Portugal. E partilhamos tudo isso com a consciência que somos uma minoria que tantos insistem em odiar. É amor sim o que sentes quando depois de te tentarem impor a solidão, de veres o medo nos olhos dos teus amigos, alguém te agarra para um jantar delirante com desconhecidos, para dançar noite dentro, para um mergulho num mar infinito, porque o mundo afinal nos pertence. Os meus companheiros de viagem encheram-me de orgulho de ser Viajante e de não vacilar como tantos outros na importância de Viajar. O Mundo precisa de mais como nós. Está na hora de te decidires por ti e pelos teus sonhos. Está na hora de também tu partires em viagem. Pelos Portugueses em Viagem, João Oliveira LER MAIS |
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