A TRADIÇÃO DOS GURUS JAIN: NUDEZ COMO EXPRESSÃO DE RENÚNCIA E PUREZA

22/5/2024

A prática da nudez entre os gurus Jain, especificamente dentro da tradição Digambara, é uma expressão profundamente simbólica e espiritual que remonta às origens do jainismo. Para compreender esta prática, é necessário mergulhar nas raízes históricas, filosóficas e antropológicas desta religião antiga. Sabe mais no Blog dos Portugueses em Viagem.

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A prática da nudez entre os gurus Jain da tradição Digambara é uma expressão profunda de renúncia, pureza e desapego material. Esta prática, enraizada na filosofia jainista de Aparigraha, desafia as convenções sociais e sublinha um compromisso inabalável com a busca espiritual. Ao compreender o contexto histórico, filosófico e antropológico desta prática, podemos apreciar a sua significância e a devoção dos que a seguem.

Origens Históricas do Jainismo

O jainismo é uma das religiões mais antigas da Índia, fundada por Mahavira no século VI a.C., embora seus seguidores acreditem que os seus ensinamentos são eternos e tenham sido transmitidos por uma longa linha de Tirthankaras (professores iluminados). Mahavira, o 24º Tirthankara, é frequentemente representado nu, simbolizando a renúncia total e a libertação dos desejos materiais.

Filosofia e Doutrina Jainista

A doutrina jainista é baseada em três princípios fundamentais: **Ahimsa** (não-violência), **Aparigraha** (não-possessividade) e **Anikantavada** (pluralismo). A nudez dos gurus Digambara (literalmente "vestidos de ar") está intrinsecamente ligada ao conceito de Aparigraha. Eles acreditam que a possessão de roupas ou qualquer bem material é um impedimento à libertação espiritual.

Significado da NudeZ

Renúncia Total: A nudez simboliza a renúncia completa a todos os bens materiais. Ao abandonar as roupas, os gurus demonstram que estão desapegados do mundo material e comprometidos com a busca espiritual.
Pureza e Simplicidade: Na filosofia Digambara, a nudez é vista como a forma mais pura e simples de existência. Sem roupas, os gurus vivem em estado de pureza absoluta, livre de qualquer contaminação material.
Desapego e Igualdade: A ausência de roupas remove as distinções sociais e económicas, promovendo a igualdade. Os gurus são vistos como iguais perante todos os seres, sem diferenciação baseada em aparência ou posses materiais.
Imitação dos Tirthankaras: Os Tirthankaras, especialmente Mahavira, são frequentemente representados nus. Seguir o exemplo dos Tirthankaras é um aspecto crucial da prática espiritual Digambara.

Prática na Vida Cotidiana

Os monges Digambara praticam uma vida austera e ascética. Vivem sem qualquer posse, dependem da mendicância para obter alimentos e caminham descalços. A nudez é um lembrete constante do seu compromisso com a renúncia e a espiritualidade. Esta prática é mantida com grande disciplina e é vista como um caminho para alcançar o estado de Kevala Jnana (conhecimento absoluto) e, eventualmente, Moksha (libertação).

Desafios e Percepções Sociais

Apesar da profunda significância espiritual, a prática da nudez pelos gurus Jain enfrenta desafios e mal-entendidos, especialmente no contexto moderno. Em sociedades onde a nudez é vista através de um prisma sexualizado, a nudez ascética pode ser incompreendida. No entanto, dentro da comunidade Jain e entre os seguidores da tradição Digambara, esta prática é respeitada e reverenciada.

Comparação com Outras Tradições Ascéticas

A nudez como prática ascética não é exclusiva do jainismo. Outras tradições, como certas seitas do hinduísmo (os Naga Sadhus) e algumas correntes do budismo, também incorporam a nudez como símbolo de renúncia e pureza. No entanto, a forma como é praticada e interpretada varia significativamente entre estas tradições.

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