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No alto das colinas que dominam a antiga capital do Império Inca, ergue-se o bairro de San Blas, o mais boémio e inspirador de Cusco. Um labirinto de ruelas empedradas, varandas em madeira azul e ateliers de artistas que guardam o pulsar criativo da cidade. Quem sobe desde a Plaza de Armas sente que está a entrar num outro mundo: o Cusco dos deuses andinos, dos artesãos que moldam a alma da montanha e dos viajantes que ali encontram refúgio. Sabe mais no Blog dos Portugueses em Viagem San Blas é o coração místico de Cusco, uma síntese entre arte, fé e lenda. Passear pelas suas ruas é escutar o eco dos Incas e dos conquistadores, ver o artesão e o viajante partilhar o mesmo espaço e sentir que o passado continua vivo. É o bairro onde a história respira e a montanha fala. San Blas é um dos bairros mais antigos de Cusco e ocupa o lugar de Toqokachi, uma zona sagrada dos Incas dedicada à água e aos espíritos da montanha. As escadarias íngremes e o traçado irregular seguem as antigas canalizações incas. Cada esquina revela a fusão entre o mundo andino e o espanhol, resultado da ocupação colonial que transformou templos em igrejas, mas preservou o misticismo do lugar. No centro do bairro ergue-se a Iglesia de San Blas, construída em 1563 sobre um antigo templo inca. O seu tesouro é um púlpito esculpido em madeira de uma só peça — considerado o mais belo dos Andes —, atribuído ao mestre indígena Tito Yupanqui. As figuras, rostos e flores que o compõem representam a fusão perfeita entre o cristianismo europeu e a cosmovisão quechua. As casas de San Blas têm fundações incas e fachadas coloniais. As varandas em madeira, pintadas de azul celeste, foram símbolo de prosperidade. As ruas mais emblemáticas — Cuesta de San Blas, Tandapata e Hatun Rumiyoc — são uma viagem pela história urbana de Cusco. É nesta última que se encontra a famosa Pedra dos Doze Ângulos, um enigma da engenharia inca esculpido com precisão milimétrica. Desde o século XX, San Blas tornou-se o refúgio dos artesãos e pintores cusquenhos. O nome de Hilario Mendívil, mestre das esculturas com pescoços alongados, tornou-se sinónimo da arte popular do Peru. Hoje, dezenas de ateliers e galerias mantêm viva essa herança, expondo cerâmicas, joias e pinturas que misturam catolicismo, mitologia inca e surrealismo andino. Dizem os locais que San Blas é habitado por espíritos guardiões que vagueiam pelas escadarias à noite. Segundo a lenda, o espírito de um antigo sacerdote inca protege os artistas do bairro, inspirando as suas mãos e afastando os maus espíritos. Outros acreditam que, em noites de lua cheia, as águas subterrâneas de Toqokachi sussurram vozes antigas — orações em quechua dirigidas à deusa Pachamama. San Blas ergue-se a mais de 3.500 metros de altitude, sobre uma encosta que domina Cusco e oferece uma das vistas mais belas sobre a cidade e o vale. A sua altitude não é apenas física: o bairro é considerado um centro energético, ponto de confluência entre o céu, a terra e as montanhas sagradas (os “Apus”). Muitos viajantes afirmam sentir ali uma vibração única, uma espécie de serenidade antiga. |
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