Quando o Rei D. Sebastião foi derrotado em Alcácer Quibir os milhares de soltados portugueses que sobreviveram foram capturados pelos vencedores. Para os nobres e fidalgos foram solicitados avultados resgates que empobreceram o reino e as famílias nobres portuguesas. Aos milhares de todos os outros, a única forma de escapar à morte foi converterem-se ao Islão e integrar a sociedade local. Ninguém pagaria por eles qualquer resgate. Vencidos e convertidos, os então chamados de "Renegados", não podiam ambicionar regressar a Portugal. Estes milhares de homens mudaram a História de Marrocos. Os poucos que conseguiram fugir e regressaram a Portugal foram ingratamente presos e julgados pela Inquisição. Sabe mais no Blog dos Portugueses em Viagem. a batalha de Alcácer-quibir (1578)A Batalha de Alcácer Quibir, ocorrida em 4 de agosto de 1578, é um episódio histórico que ressoa através dos séculos como um evento marcante que moldou destinos e transformou o curso da História. Este épico confronto, também conhecido como a Batalha dos Três Reis, testemunhou uma convergência de culturas, estratégias e destinos que ecoam na narrativa do passado. No cenário deslumbrante do norte de África, o destino de nações foi selado enquanto os exércitos liderados pelo rei português Dom Sebastião, o sultão otomano Mulay Mohammed e o exilado pretendente ao trono marroquino Abu Abdallah, colidiram. A Batalha de Alcácer Quibir se desdobrou como uma dança caótica e ardilosa, onde as areias do deserto se tornaram o palco de uma luta que ecoaria através dos séculos. A relevância histórica desta batalha é inegável. O conflito não apenas selou o destino de Dom Sebastião, cujo desaparecimento deu origem a lendas e mistérios que persistem até hoje, mas também teve implicações profundas para o curso da política ibérica. O vácuo de poder resultante da ausência do jovem monarca português levou a um período de instabilidade e eventual união dos reinos de Portugal e Espanha sob a coroa de Felipe II. Além disso, a Batalha de Alcácer Quibir reverberou nas dinâmicas geopolíticas da região, moldando as relações entre o Império Otomano, o Norte da África e a Península Ibérica. As consequências estratégicas desse embate ressoaram por décadas, influenciando alianças, rivalidades e eventos subsequentes. No coração deste épico confronto, encontramos lições eternas sobre a natureza volúvel da fortuna e a interconexão intrínseca das civilizações. A Batalha de Alcácer Quibir transcende seu contexto temporal e geográfico, tornando-se um símbolo imortal da complexidade da história humana. Ela nos lembra que, mesmo nos campos de batalha mais áridos, os destinos das nações podem ser forjados e entrelaçados de maneiras imprevisíveis. Assim, a Batalha de Alcácer Quibir permanece não apenas como um marco na cronologia histórica, mas como uma narrativa cativante que continua a fascinar e inspirar, convocando-nos a refletir sobre os caminhos tortuosos da história e as implicações duradouras das escolhas humanas. os pesados resgates pagos a marrocosA Batalha de Alcácer Quibir, travada em 4 de agosto de 1578, deixou uma marca indelével na história portuguesa, não apenas pelo seu impacto político, mas também pelos dramáticos esforços empreendidos pelas famílias nobres e pela coroa para resgatar os fidalgos aprisionados durante o conflito. Os resgates pagos pela coroa e pelas famílias nobres de Portugal para libertar os nobres capturados foram verdadeiros atos de desespero e sacrifício. Após a derrota portuguesa e o desaparecimento do jovem rei Dom Sebastião no campo de batalha, muitos nobres e fidalgos foram feitos prisioneiros pelo exército marroquino. A coroa portuguesa, num esforço para recuperar os nobres capturados, viu-se obrigada a desembolsar somas consideráveis de dinheiro. As famílias nobres, por sua vez, enfrentaram um dilema angustiante, tendo que sacrificar suas fortunas para libertar seus entes queridos. O pagamento de resgates tornou-se uma corrida contra o tempo. Os relatos históricos sugerem que as quantias exigidas pelos captores eram exorbitantes, colocando um fardo significativo nas finanças da coroa e das famílias nobres. Os esforços para arrecadar essas somas muitas vezes incluíam a imposição de pesados tributos sobre a população, exacerbando as tensões sociais já existentes. Esses resgates não apenas esvaziaram os cofres reais, facilitaram a entrada de Filipe II e destacaram a natureza angustiante das consequências de uma derrota militar tão significativa. os 16.000 homens que mudaram marrocosPara os sobreviventes portugueses da Batalha o futuro ficou sombrio. A maioria do exército não era Nobre e portanto não tinha hipótese de ser salvo por resgates. Muitos foram escravizados e usados em trabalhos esforçados em obras em todo o país. Um destino semelhante aos escravos mouros em Portugal. Com a batalha de Alcácer Quibir inaugura-se um período áureo na história de Marrocos. Os resgates da mesma forma que desequilibraram as finanças portuguesas fortaleceram as Marroquinas. Seguem-se uma série de obras públicas com a nova mão-de-obra que justifica que em regiões onde o Reino de Portugal nunca chegou se conheçam estradas, pontes e edifícios denominados como sendo "dos Portugueses". Aos prisioneiros de menor educação restou a escravidão. A todos os que tinham alguma educação, arte ou aptidão, desde que aderissem ao Islão, a integração foi mais fácil. Alguns foram mesmo favorecidos pelo sultão. Chamou-se a esses portugueses que aderiram ao Islão "Renegados". Marrocos era então uma tapeçaria de várias reinos unidos e conquistados. As querelas internas, intrigas na corte e disputas familiares, faziam destes militares portugueses uma escolha paradoxalmente segura para o Emir. Houve assim vários renegados que ascenderam a posições de enorme poder militar e admnistrativo. É preciso notar que no grande exército português, além dos soldados e escudeiros havia cozinheiros, carpinteiros, ferreiros, etc. A sua conversão ao islão era religiosamente considerada um acto de piedade e foi uma forma de reestruturar os exércitos marroquinos e afastar o perigo de anexação ao Império Otomano (que se estendeu até à actual Argélia). “Uma vez convertidos, estes homens não tinham qualquer esperança de retorno, já que o Papa e a Inquisição condenavam os apóstatas e julgavam-nos no seu regresso ao país, se os conseguissem capturar.” os prisioneiros que fugiam e regressavam a portugalHá registos de alguns bravos que conseguiram regressar a Portugal. Como era sabido, só os Renegados conseguiram sobreviver. Ao regressar acabaram presos e julgados pela Inquisição. por se terem convertido ao Islão. O poder da Igreja Católica sobrepôs-se à dignidade nacional. Este assassinato dos nossos soldados ficou registado até hoje: “Nos autos de 1624 e 1625 saíram a queimar dois soldados de Alcácer Quibir, Pero Gonçalves Tovar e Luís Álvares Matias.” a conquista de timbuktuFortalecidos com o influxo dos resgates e com mão de obra e exército reforçado, Marrocos conseguiu resistir a ataques dos europeus e à anexação ao Império Otomano. Pode ainda expandir-se a sul, com incursões até ao actual Mali, conquistando Timbuktu (1592-1618). Nessa invasão determinante para a História de toda a região, participaram renegados portugueses, militares experientes assimilados pelo exército marroquino. |
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