O primeiro contacto entre Bali e os europeus aconteceu com exploradores portugueses logo em 1512. A ilha ainda era então um conjunto de reinos independentes. Foi a Expedição portuguesa, liderada por António de Abreu e Francisco Serrão, e onde muito provavelmente seguia um jovem de nome Fernão de Magalhães, que levou os primeiros ocidentais a desembarcar em Bali. Sabe mais sobre estes navegadores incríveis no Blog dos Portugueses em Viagem. Partindo de Malaca, os portugueses passaram pela costa norte de Sumatra e de Java e seguiram para leste, descobrindo, entre outras, as ilhas de Madura, Bali, Lombok, Sumbawa e Flores. Daqui desviaram-se para nordeste até Buru, Amboin e Ceram. Seguiam numa empresa pensada por Afonso de Albuquerque que pretendia chegar às Molucas, a origem de preciosas especiarias. Não permaneceram em Bali. Sabe-se muito pouco sobre este encontro, no entanto, a partir desse momento a ilha começou a figurar nos mapas portugueses e espanhóis, sob os nomes Boly, Bale e Bally. Nos séculos XVI e XVII, as ilhas que hoje compõem a atual província das Molucas do Norte eram designadas como as "Ilhas das Especiarias". Nessa época, essa região era a única fonte global de noz-moscada e cravo-da-índia, especiarias altamente valorizadas nos mercados europeus. Estes produtos eram comercializados por mercadores árabes à República de Veneza a preços exorbitantes. Notavelmente, esses negociantes mantinham em segredo a localização precisa da origem das especiarias, impedindo assim que os europeus deduzissem de onde vinham. Fomos investigar quem foram estes dois navegadores portugueses, António de Abreu e Francisco Serrão e a forma como mudaram o destino de Portugal e da região. o navegador antónio de abreuFidalgo Madeirense, natural da Calheta, António de Abreu destacou-se na conquista de Ormuz e de Malaca ao serviço de Afonso de Albuquerque. Nesta última batalha ficou desfigurado mas permaneceu ao serviço da coroa. É ele quem comanda a Expedição às Molucas em que os Portugueses descobrem Bali e a Indonésia. Quando se separou do navegador Francisco Serrão, permaneceu na região até 1529. Muitas Expedições se organizaram neste período a partir de Malaca. Assim como, anualmente, o Tejo testemunhava a partida da Armada da Índia em direção ao Oriente, do porto de Malaca também partiam, a cada ano, expedições com o propósito de explorar os mares da China, do Japão, das Molucas e do extenso conjunto de ilhas que, como se descobriria mais tarde, conectavam organicamente Malaca à Nova Guiné, à Austrália e à Nova Zelândia. António de Abreu é por isso apontado como um dos potenciais descobridores da Austrália, descrita miticamente pelos portugueses de então como a "ilha do ouro". Os outros dois portugueses considerados pelos historiadores são Diogo Pacheco e Cristovão de Mendonça. Os exploradores portugueses, ao depararem-se com a Austrália, abstiveram-se de reivindicá-la para a coroa de Portugal, optando por manter a descoberta em sigilo. A decisão de manter em segredo pode ser atribuída ao Tratado de Tordesilhas, que estipulava que a região da Austrália seria, quando encontrada, propriedade da coroa espanhola. Aprofundando o mistério, muitos dos registos e anotações dessas expedições foram perdidos durante a destruição causada pelo Terramoto de Lisboa em 1755. António de Abreu é uma das figuras esculpidas que podemos ver a seguir o Infante D. Henrique no Padrão dos Descobrimentos em Lisboa. O seu companheiro, Francisco Serrão, nunca chegou a regressar a Portugal para usufruir da glória das suas descobertas. Estava antes destinado a uma viver umas das maiores aventuras dos Descobrimentos. o navegador francisco serrãoFrancisco Serrão, grande amigo pessoal de Fernão de Magalhães teve após Bali um percurso muito peculiar. Casou com uma jovem na ilha de Java que o passou a acompanhar o resto da vida. Já depois de Abreu e Serrão chegarem às Molucas, a nau de Serrão naufraga. Serrão adquire então um Junco Chinês, e ao contrário de António Abreu que regressa a Malaca com as especiarias adquiridas, Serrão prossegue viagem no junco chinês, com a sua esposa e meia dúzia de portugueses e indonésios que ficaram com ele. Quis o destino que, novamente, voltasse a naufragar, uma desgraça que o impele para a fase mais magnífica da sua vida. o sultãoO que aconteceu é notável. Após o naufrágio, Serrão e a sua tripulação são atacados por piratas. A forma como repele e vence os saqueadores que o tentavam roubar após o naufrágio conquista-lhe prestígio na região: Serrão não só vence os saqueadores como lhes conquista os barcos e liberta os seus escravos. Ao saber do feito, o Sultão de Ternarte, um dos grandes senhores da região, convida-o para a sua Corte e estabelece-se uma enorme relação pessoal de confiança e amizade. Serrão nunca iria regressar a Portugal. Serrão e o Sultão tornam-se amigos íntimos e o Português é nomeado conselheiro pessoal para todas as questões, incluindo as militares. Serrão torna-se o braço direito do Sultão, o homem mais poderoso das Molucas. É importante notar que esta amizade pessoal era por demais conveniente à Coroa Portuguesa. Portugal não podia reclamar oficialmente para si as Molucas, já que as mesmas se encontravam, devido ao tratado de Tordesilhas, em território de Espanha. Espanha, ao tomar conhecimento da descoberta das Molucas tentou tudo para tomar a sua posse. Financiou a famosa circunavegação de Fernão de Magalhães e, posteriormente, enviou três armadas sucessivas, todas destinadas ao fracasso. a grande amizade entre serrão e magalhãesFernão de Magalhães e Francisco Serrão terão combatido lado a lado na conquista de Malaca, selando para sempre uma enorme amizade. Existe a forte possibilidade de Fernão de Magalhães ter participado da Expedição que descobriu Bali, uma vez que só volta a ter registo em Malaca em 1513, após o regresso de António de Abreu a esta fortaleza portuguesa no extremo oriente. Se assim for, o futuro grande navegador estaria entre os primeiros portugueses a desembarcar em Bali. A correspondência de Serrão a Magalhães, enviada a Portugal através de Malaca e que descrevia as "Ilhas das Especiarias", desempenhou um papel crucial em convencer a Coroa Espanhola a financiar a expedição de circum-navegação de Magalhães em 1517. No entanto, antes que os dois exploradores pudessem reunir-se nas Molucas, Serrão veio a falecer em circunstâncias misteriosas. Curiosamente, esse acontecimento ocorreu quase simultaneamente à morte de Magalhães em combate na ilha Mactán, nas Filipinas. Os dois grandes amigos e exploradores portugueses morreram quase ao mesmo tempo e a relativa pouca distância um do outro. Que incrível teria sido o reencontro desses Portugueses em Viagem! Serrão deixou dois filhos pequenos do seu casamento com a jovem Javanesa. Depois de a conhecer em Java no início da sua aventura, nunca mais se separaram, e viveram juntos até ao fim dos seus dias. Não sabemos se a família de Francisco Serrão regressou a Portugal ou permaneceu nas Molucas sob proteção do seu amigo Sultão. o regresso a bali dos portuguesesNão houve por parte dos Portugueses qualquer tentativa de colonização de Bali até 1585, quando foi enviada uma missão com a intenção de construir um forte e posto de comércio na ilha. No entanto, este plano naufragou antes de poder acontecer, já que o navio colidiu com o recife da Península de Bukit, deixando apenas cinco tripulantes vivos que flutuaram até às praias de Bali. Estes 5 portugueses foram integrados ao serviço do Dalem (Rei de Gelgel) e de acordo com os registos da época, "providenciados com esposas e lares". O seu futuro acabou por ser ditado por acontecimentos a milhares de quilómetros de distância, com a entrega de Portugal e do seu Império à monarquia espanhola, a chegada dos holandesesA perda da independência nacional para a Coroa de Espanha e a chegada dos Holandeses (religiosamente tolerantes versus o fanatismo religioso da inquisição portuguesa) determinaram a dissolução da influência portuguesa nas Molucas e na atual Indonésia. A unificação imposta pelo colonialismo holandês, com todas as ilhas submetidas a Jakarta, foi determinante para que mesmo hoje, já com uma Indonésia independente, esta seja um tecido de tantas culturas etnias e religiões muito diversas entre si. Não tivesse a intenção portuguesa de colonizar Bali "naufragado", e a realidade geopolítica da região seria hoje completamente distinta. Quando Portugal retoma a independência o grande foco nacional passa a ser o Brasil. A relevância das Molucas diminui grandemente quando as valiosas especiarias são cultivadas com sucesso noutras regiões do mundo mais próximas da Europa. Quando viveres a tua Aventura em Bali, tem presente este passado incrível que une esta ilha lindíssima ao nosso país. O passagem dos navegadores portugueses por Bali foram momentos breves no contexto da expansão marítima portuguesa, mas pacíficos e memoráveis. Imagina, por momentos, o impacto das tradições milenares da ilha nos nossos navegadores, e de como os terá impactado. Imagina o encanto de Fernão, Serrão e Abreu com a beleza natural e a hospitalidade dos locais, uma hospitalidade que se estende até hoje, portugueses em viagemAbreu e Serrão, os portugueses que descobriram Bali, foram Grandes Navegadores que viveram vidas extraordinárias. A probabilidade de Fernão de Magalhães os ter acompanhado nessa aventura é muito forte, e vamos em breve escrever aqui no Blog sobre o que descobrimos. É sempre um prazer para nós descobrir, e partilhar contigo, estes viajantes antepassados que surgem inesperadamente, com vidas deslumbrantes, quando, como é nossa obrigação, pesquisamos a História e o passado de países e culturas longínquas que visitamos nas nossas Expedições. A pergunta que eles sem dúvida fizeram a si próprios é a mesma que deves colocar sempre a ti mesmo/a: até onde és capaz de ir? |
BLOG PORTUGUESES EM VIAGEMARTIGOS:
Tudo
|