Brites de Almeida. a Padeira de Aljubarrota, nasceu em Faro, e se tivesse Instagram tinha sido uma grande influencer LGBT+ do seu tempo. Lê o artigo sobre esta Histórica Viajante Portuguesa! Nasceu em Faro, e se tivesse Instagram tinha sido uma grande influencer LGBT+ do seu tempo. O pai, homem simples e trabalhador tinha aí uma estalagem onde Brites de Almeida trabalhou desde jovem. Não pode ter sido uma infância fácil: a algarvia tinha 6 dedos em cada mão. Isso na Idade Média era bullying garantido. Mas o que uns desprezam, outros almejam: um certo dia um nobre cliente, talvez encantado com o dedinho extra, decidiu-se a tratar Brites como se fosse parte do menu. Logo aí, em tão tenra idade, se revelou o espírito de uma das portuguesas mais famosas da nossa História. A coisa não correu nada bem para o nobre ousado, mesmo nada bem (este é o momento em que as Feministas, e bem, se erguem de entusiamo ao ler este post). Brites aviou-o bem. E à bruta. Com os dedinhos todos ensinou-lhe o caminho para o cemitério. Foi o primeiro homem que matou. Em pânico, com medo das represálias, o pobre pai decide protege-la da vingança da família do nobre (tarado) senhor. Envia-a fugida para Espanha. Ia ser a sua primeira grande viagem. E correu mal. A barca onde seguia Brites foi tomada por Piratas, a jovem capturada e levada para Argel onde foi vendida como escrava aos mouros. Entre a Argélia, Mauritânia e Marrocos, o seu percurso dissipa-se em lenda. Corpulenta, desordeira, terá conseguido matar alguns mouros e fugir com um grupo de escravos portugueses, regressando de barco a Portugal. Desembarcou na Ericeira e decide celebrar a liberdade passando a vestir-se de homem (este é o momento em que o pessoal não binário começa a bater palmas a este post). Vestida de homem torna-se almocreve e ganha a vida percorrendo o Oeste comprando e vendendo nas feiras. Vivia em viagem. Mas mesmo vestida de homem e com dedinhos a mais, a nossa Brites partia o coração dos lavradores e acabou em mais uma confusão. Matou mais um (e vão 2 + mouros) e foi presa em Lisboa. Nada se provou e foi liberta. Mas esta passagem no cárcere parece ter mudado a nossa rapariga. que decide assentar e completar certinha o resto dos seus anos. Então como agora, havia pessoas que acreditavam que essa era uma escolha que se pode fazer. Todos sabemos como o Destino detesta essas arrogâncias, e logo encomenda de impulso dois ou três trabalhos à ironia. Entrar para um convento estava fora de questão., De comida percebia mas para freira faltava vocação (este é o momento em que as freiras se benzem ao ler este post). Regressa por isso ao Oeste, agarra-se a um lavrador fã dos dedinhos extra e trata de encontrar trabalho numa padaria. Toda a gente saber que pãezinhos quentes vendem sempre. O plano era envelhecer engordando-se a si e ao marido com bolos grátis. Convenhamos que até estava bem pensado. O sossego era merecido depois de tanta atribulação. E já o famoso genérico de Hollywood "the end" estava pronto a cair sobre esta história, quando se dá a Batalha de Aljubarrota. Uma Grande Batalha que a atirou, ao lado de um santo, para a História do nosso país, gravando-a no imaginário de milhões de Portugueses ao longo dos Séculos. Brites de Almeida não esteve na batalha ali quase ao lado da sua padaria. Mas como os seus conterrâneos temeu o desfecho. Seriam as primeiras vítimas da devassa dos Espanhóis se estes vencessem. Mas Portugal ganhou. A Estratégia de origem anglo-saxónica levou a melhor à força espanhola. O medo medieval dos portugueses que apenas sabiam contar soldados deu lugar à euforia da vitória, à luxúria do assassinato. Não foi bonito. Dizimados, o exército vencido dispersou pelas casas e quintas da região. E é aqui que a Padeira de Aljubarrota, com toda a sua força de uma vida vivida, surge como líder de uma das milícias que partem pelos campos a matar espanhóis. Entres estes os 7 que matou com a sua pá no forno do pão (e vão 9). E nasceu o mito. Um mito que se avolumou e cresceu e perdura ao longo de todos os séculos. Como todos os grandes mitos, este não se explica apenas com a originalidade, resiliência e coragem bruta de Brites. Ela foi, é, um símbolo que a independência de Portugal era uma ânsia do Povo, não apenas um jogo de poder de reis, nobres e clero. Como mulher e como "povo" ela cimenta a pretensão do Mestre de Aviz como a escolha nacional, o exemplo de que todos podemos ser heróis com o nosso trabalho . Passa a imagem de um país inconquistável onde até uma mulher desarmada mata sete homens inimigos. Brites é uma das muitas mulheres que construiu Portugal, O seu percurso torna-a interessante a qualquer viajante. O destino colocou-a no momento e lugar para se fazer dela um símbolo, que extraordinariamente sobrevive aos séculos. As outras nações também têm os seus mitos e símbolos. Mas a Brites é nossa. A história desta viajante deve ser conhecida. Creio que a Força e Liderança da Padeira de Aljubarrota não nasceram do nada, de uma epifania nacionalista, ou por devoção ao Rei ou a Deus. Essa seria a narrativa conveniente do seu tempo. Eu acredito que a temeridade de Brites nasceu sim do seu percurso e da sua diferença. Uma mulher com uma malformação física que em vez de frágil e submissa, é capaz de matar o seu violador. Que consegue se libertar dos seus amos muçulmanos e regressar a Portugal e à Liberdade. Que se veste de homem para viver livre. Claro que uma mulher assim consegue liderar um punhado de aldeões a matar inimigos. Sim, foi uma serial killer e os dedinhos não ajudam à imagem da moça. Mas é curioso, e triste, como sem qualquer fundamento a sua imagem foi masculinizada e até desfigurada nos séculos seguintes. Como se as mulheres bonitas não pudessem ser fortes. Com humor e alguma provocação contámos-te um pouco da história da Brites. O próximo passo é dares um salto a Aljubarrota e segurares na Pá da Padeira. Sim, a Pá ainda existe, e podes vê-la. Na verdade foi essa informação o ponto de partida para a minha curiosidade sobre a Brites de Almeida e acabou na escrita deste artigo. Como estás a pensar neste momento, também eu fiquei na dúvida se seria mesmo aquela a pá secular da Padeira. Mas assim acreditam hoje as pessoas de Aljubarrota. E a verdade, é que mais não seja pela lista de Reis Portugueses que pediram para a ver e segurar esta pá, verdade ou falsa, tal como Brites, este é um símbolo que podes e deves conhecer. Eu pelo meu lado vou perguntar pela Brites quando regressarmos a Marrocos. Logo vos conto o que descobrir. 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