ISOLA SAN DOMINO: A ILHA GAY DE MUSSOLINI - PORTUGUESES EM VIAGEM

3/7/2023

Pela primeira vez nas suas vidas, os homens estavam num lugar onde podiam ser eles mesmos - livres do estigma que normalmente os rodeava na Itália devotamente católica dos anos 1930.

Em 1938, durante o apogeu do regime de Mussolini, cerca de 45 homens, suspeitos de serem homossexuais, foram detidos na Catânia (Sicília). Foram humilhados, espancados e presos na Ilha de San Domino, no Arquipélago das Ilhas Tremitis, a cerca de 600 km de distância. Era o início da persseguição aos Homossexuais pelo regime fascista italiano.

Dezenas de homens de toda a Itália suportaram a prisão em condições sub-humanas em San Domino. Os prisioneiros sabiam que a exposição da sua homossexualidade causou vergonha e angústia às suas famílias nas cidades e aldeias profundamente conservadoras de onde provinham. Não tinham família a onde regressar. Chegavam algemados e eram alojados em grandes dormitórios espartanos, sem electricidade ou água corrente.

Mas, o surpreendente desta história pouco conhecida, é que alguns dos poucos relatos dados pelos antigos prisioneiros deixam claro que a vida em San Domino nem sempre era má. Parece que o regime prisional do dia-a-dia era comparativamente descontraído. A relação com os guardas e os habitantes da ilha era pacífica. Sem o saber, o fascismo tinha criado um recanto de Itália onde paradoxalmente se esperava, e se podia, ser abertamente Gay.

Pela primeira vez nas suas vidas, os homens estavam num lugar onde podiam ser eles mesmos - livres do estigma que normalmente os rodeava na Itália devotamente católica dos anos 1930.

O que isso significou para os exilados foi explicado numa rara entrevista com um sobrevivente de San Domino, publicada na revista italiana Babilónia. Este afirma que de certa forma os homens estavam melhor na ilha que no exterior: "Naqueles tempos, os gays não podiam sair de casa ou chamar a atenção - a polícia prendia-nos. Mas na ilha, por outro lado, celebrávamos os nossos dias santos ou a chegada de alguém novo. Fazíamos teatro e podíamos-nos vestir de mulher, e ninguém dizia nada. Havia romance e até brigas por amores."

Alguns prisioneiros choraram quando o início da Segunda Guerra Mundial em 1939 levou ao fim deste "campo de concentração LGBT" em San Domino, e os homens foram devolvidos às suas terras de origem onde ficaram em prisão domiciliária.

Vários homens LGBT+ foram presos juntamente com prisioneiros políticos em outras pequenas ilhas, como Ustica e Lampedusa, San Domino foi a única onde todas as vítimas de Mussolini eram LGBT+.

É profundamente irónico que, na Itália daquela época, só numa ilha-prisão estes homens pudessem encontrar alguma liberdade.

O FASCISMO DE MUSSOLINI E A HOMOSSEXUALIDADE

Durante o regime fascista de Mussolini na Itália houve perseguição e repressão aos homossexuais. A repressão sobre a população LGBT incluía a criminalização da homossexualidade e a aplicação de leis que visavam punir aqueles considerados culpados. Homossexuais, Bissexuais e Transgénero eram frequentemente alvo de discriminação, perseguição e encarceramento, sofrendo repetidas violações dos direitos humanos. A perseguição aos homossexuais durante o regime fascista em Itália é um triste capítulo da História que deve ser lembrado.

A ISOLA SAN DOMINO NOS DIAS DE HOJE

A Ilha de San Domino, também conhecida como Isola di San Domino, é a maior das Ilhas Tremiti, um arquipélago composto por cinco ilhas no Mar Adriático, ao largo da costa da região de Puglia, na Itália. A ilha é conhecida pelas suas belas praias, águas cristalinas e paisagens naturais impressionantes.

San Domino é a única ilha do arquipélago com praias arenosas, o que a torna um destino popular para turistas em busca de sol e mar. As suas enseadas e baías isoladas oferecem oportunidades para mergulho, natação e outros desportos aquáticos. A ilha tem uma vegetação exuberante, com pinheiros e ciprestes que proporcionam sombra refrescante. Há também uma trilha cénica que permite aos visitantes explorar a ilha a pé, desfrutando de vistas panorâmicas do mar e das falésias.

Além de suas belezas naturais, a Ilha de San Domino também possui um centro habitado, com restaurantes, bares e algumas opções de acomodação para os visitantes. Durante temporada alta, a ilha pode receber um número considerável de visitantes.

O ARQUIPÉLAGO TREMITI

O arquipélago das Ilhas Tremiti é composto por cinco ilhas, mas apenas duas delas são habitadas: San Domino, a mais populosa e turística, e San Nicola, a mais histórica. As outras três ilhas são: Capraia, ideal para mergulho; a pequena Cretaccio (ou La Vecchia); e a mais distante, a ilha Pianosa.

Com uma área de 208 hectares, San Domino é a maior ilha do arquipélago das Ilhas Tremiti e também a mais deslumbrante em termos de paisagens. É conhecida pela sua floresta de pinheiros característica de pinheiros de Alepo, que se estende até as rochas que se projectam sobre o mar. A ilha oferece uma ampla variedade de opções turísticas, incluindo hotéis, residências e resorts.

De acordo com a lenda, as Ilhas Tremiti eram chamadas Insulae Diomedeae. Diomedes, herói da Ilíada, foi enterrado na ilha de San Nicola após a queda de Tróia. A deusa Afrodite transformou seus companheiros em gaivotas. Diz-se que ainda é possível ouvir o canto melancólico das gaivotas durante a noite, como um eco da antiga lenda.

COMO CHEGAR A ISOLA SAN DOMINO

O arquipélago das Ilhas Tremiti está localizado a 22km da costa norte do Gargano. Todos os dias, os ferries partem por volta das 8h30 dos portos de Vieste (Porto Vecchio), Peschici, Rodi Garganico e Termoli (Molise) com destino à Ilha de San Domino. O regresso acontece às 18h00. O bilhete tem um custo aproximado de 30 euros, e a viagem dura cerca de 2 horas.